A
CONTRIBUIÇÃO DE FREUD PARA O ESCLARECIMENTO DO FENÔMENO POLÍTICO
MAURÍCIO
TRAGTENBERG *
Não pretendemos abordar
as relações entre Psicanálise e Política, mas, a contribuição de Freud para o
esclarecimento do fenômeno político. Isso significa limitarmo-nos a seu
universo discursivo, sem ampliar a análise do político, abrangendo as várias
correntes psicanalíticas, de Reich a Adorno, de Guattari a Lacan. A volta de
Freud significa a preocupação em compreender a sua contribuição específica ao estudo
do fenômeno político, sua pertinência e atualidade.
Durante mais ou menos
um século, o estudo do “político” centrou-se nas instituições. Fourier esperava
que, através delas, o vício individual se transformasse em virtude social.
A preocupação de
Freud com o “social” se acentua após o impacto da Primeira Guerra. Nos seus dois
ensaios a respeito, um escrito em 1915 e outro em 1922, procurou ele mostrar a hipocrisia
da sociedade moderna, a coerção social funcionando e o caráter primário das tendências
agressivas. Impressionado, como Max Weber, com o empobrecimento da vida, ele valoriza,
inicialmente, a guerra como alternativa ao conceito convencional de morte, porém,
a guerra condicionou seu interesse o estudo da agressão, como o câncer que o vitimaria,
levou-o a aprofundar o conceito de “instinto de morte”.
Admitindo que o nosso
inconsciente mata, mesmo por motivos insignificantes, vê na eclosão da guerra uma
prova disso. Os homens não desceram tão baixo por ocasião da guerra, dizia ele,
porque nunca estiveram tão alto como pensavam achar-se. assim, o homem renuncia
a seus instintos agressivos substituindo-os pelas agressões estatais, o Estado proíbe
ao indivíduo infrações, não porque queira aboli-las, mas sim, para monopolizá-las.
A autenticidade e
espontaneidade podem andar vinculadas ao instinto da morte. Pode a pessoa “autenticamente”
matar alguém e “espontaneamente” apertar o botão que despeja centenas de
bombas, espalhando a morte. Embora admitisse a existência de soluções
culturais; sugere a existência de uma autoridade universal para julgar os
conflitos de interesse entre as nações.
A sua admissão da existência
de uma agressividade “inata” não o impediu de considerar os meios indiretos de satisfação.
O ódio básico em Freud, é fundido com as tendências sociais na medida em que o
indivíduo amadurece.
Hobbes
e Freud
Como Burke, admite a Freud
a positividade das restrições sociais que nos livram d a escravidão às paixões.
Enquanto, para Hobbes, o homem natural é egoísta, em Freud também o é, com a diferença
de que ele tem necessidade social.
Enquanto, para Hobbes,
o homem segue a lei da astúcia e da força, Freud reconhece a sua existência, porém,
afirma, concomitantemente, a existência do amor e da autoridade, daí a ambivalência.
A figura do contrato social, em Hobbes, Locke e Rousseau, era para explicar a
legitimidade original da sociedade capitalista. Para Hobbes, o pacto social funda-se
na existência do medo, que torna o homem prudente.
Para Freud, a sociedade
política corresponde ao desejo irracional do homem em restaurar a autoridade;
com a morte do pai primitivo, surge no homem a “nostalgia do pai”. Para ele, o
governo não surge de um contrato social, mas, de uma resposta contrarrevolucionária
, que emerge após a queda do governo patriarcal e representa o desejo majoritário
dos cidadãos-irmãos, não é uma manifestação de prudência do grupo. Os mitos do contrato
social, no universo psicanalítico, podem ser vistos como reafirmação da vontade
do pai acima dos impulsos rebeldes dos filhos.
O contrato social, na
medida em que significa o ingresso da sociedade na organização política
histórica, representa a aceitação da derrota da maioria, ela que, medi ante a
restrição exogâmica de novas conquistas sociais, ninguém pode alcançar outra
vez o supremo poder do pai, embora todos tivessem lutado para isso. Na forma de
horda, família ou governo, para Freud o que existe é o controle da liberdade de
ação. A existência da lei mostra a força dos desejos ocultos, a existência de uma
necessidade interna, que a consciência desconhece. Daí Freud reconhecer que o desejo
funda a necessidade da lei. O caráter complexo dos desejos explica a complexidade
das interdições sociais.
As
proibições
Freud relaciona as proibições
auto impostas, mediante as quais os neuróticos controlam os impulsos proibidos com
as complicações rituais, mediante as quais os povos primitivos se defendem da “desordem”,
os sentimentos libertários que possam surgir originam autocontroles compensadores,
e esses, por sua vez, a renúncia a uma posse ou liberdade entendida como repressão
e objetivada como tabu ou lei. A ambivalência e o tabu significam a existência de
uma dialética que oscila entre repressão e rebelião; essa leva a nova
repressão. A luta entre a lei e o impulso só pode ser sintetizada pelo “ego”. A
liberdade procurada é a liberdade para se tornar um amo. Os impulsos conscientes
de rebelião, para Freud, originam-se na inveja. O desejo de poder é contagiante,
todos querem ser reis. O excessivo respeito, a cortesia, e as regras estritas
de etiqueta em relação ao “chefe” são derivadas do “medo de tocar” do primitivo,
segundo Freud, medo de contatar pessoas pelas quais sente hostilidade inconsciente,
sejam chefes, mortos ou recém-nascidos. Para ele, todos os gestos de submissão são
ambivalentes, daí o respeito e o afeto esconderem hostilidade inconsciente. Freud
venera quem estabelece regras como Moisés e simpatiza com que as contraria,
como Ricardo III. Todos nós sofremos alguma ferida narcisista, daí a nossa simpatia
para com ele.
Ao produzir Psicologia
das Massas e Análise do Eu, Freud estava abandonando o evolucionismo linear
de Totem e Tabu e a preocupação pelas origens pré-históricas cedia lugar à análise
contemporânea. Essa preocupação transparece no seu texto Novas Contribuições
à Psicanálise, onde relata seu conhecimento da obra de Marx. Embora reconhecendo
que as pesquisas de Marx sobre a estrutura econômica da sociedade e a influência
das distintas formas de economia sobre a vida humana impuseram-se com indiscutível
autoridade, mantém seu ponto de vista, segundo o qual as diferenças sociais se originaram
por diferenças raciais. Assim, para Freud, fatores psicológicos, como o excesso
de tendências agressivas constitucionais, a coerência organizatória da horda e a
posse de armas, decidiram a vitória; os vencedores se transformaram em senhores
e os vencidos em escravos; isso exclui o domínio exclusivo dos fatores econômicos.
Na sua crítica a Marx, partia ele do conceito de ato econômico como “ato puro”,
difundido pela Escola Clássica.
Freud não só se preocupava
com a herança de Marx, como, também, com o fenômeno da ascensão das massas após
a revolução industrial, para tanto, fundado em Gustavo Le Bon, a quem corrigia
em algumas particularidades, procurava estudar as vinculações da massa com o líder.
Para Freud, a relação política básica consistia numa relação erótica, da massa com
a autoridade. Para ele, a autoridade sempre existe personificada. A horda supõe
um chefe, o hipnotizado, um hipnotizador, o amor, u m objeto, a massa, um
líder. Para ele a condição de líder exige que este se aparte de seus subordinados
e, ao mesmo tempo, evite que eles o abandonem. O líder atua como um “centro” para
organizar vidas que procuram um sentido. Porém, situações de pânico e desorganização
social podem levar a massa a reorientar-se em torno de novos líderes. Para
Freud, o líder toma a forma de pai perseguidor, como o pai primitivo, ou
perseguido como Cristo. O líder aparece como figura segura de si, com poucos vínculos
libidinosos; a sua vontade é reforçada pela dos outros. Freud vê toda a
atividade política, sem distinção, como influenciada pela autoridade. Segundo
Freud, isso dá um sentido permanente às manifestações de autoridade.
A
psicologia
Sua psicologia tem implicações
conservadoras no caso. Assim, na História não há acontecimentos qualitativamente
diferenciados. O líder na figura de pai e seus seguidores, enquanto filhos, tornam
a luta política uma luta geracional. Na ambivalência, as mudanças sociais se
tornam recorrências e as relações sociais só têm sentido pelas necessidades psicológicas
que preenchem. A crítica social é desvalorizada, na medida em que é vista como manifestação
da ambivalência geral das emoções. A desconfiança dos governados ante o poder
não se dá por uma visão nacional de suas vitórias e fracassos, mas como expressão
de sentimentos hostis. Freud vincula o fenômeno político aos delírios paranoicos
, no exagero da importância de uma pessoa. Partir da participação libidinal é,
para ele, decifrar a genética do poder. Totem e Tabu e Psicologia das
Massas mantém uma visão liberal clássica: o indivíduo ante o Estado, sem ninguém
como permeio, nenhum grupo intermediário. Para Freud, o governante tem verdadeiro
poder mediante atribuição ilusória de seus partidários.
A imagem freudiana do
pai, como modelo de autoridade, vincula-se diretamente à ide ia, que, na sociedade
ocidental, qualquer tipo de autoridade está submetido a pressões e crises. A atitude
psicanalítica reforça o distanciamento à crítica do conceito de legitimidade, muito
desenvolvida nas ciências sociais.
Para ele, a esfera política
opera como extensão da esfera particular, a veneração exagerada do homem
público é vista como recorrência da admiração do filho pelo pai. Quanto mais
carente de atenção e afeto, nas relações pessoais, tanto mais tende a personalidade
a “externalizar-se” à esfera pública; nessa procura de aceitação, amor e cumplicidade.
Não é possível o fanatismo na política, quando o partidário reconhece no seu líder
o deslocamento da imagem paterna, da mesma forma como o crente fraqueja quando analisa
sua conduta religiosa com destino à ilusão. Freud realiza uma crítica da
política na média a que vincula neurose e poder, sintetizados em Ricardo III.
Freud colocou em xeque o exercício ‘livre’ da cidadania, na medida em que descobriu
o quanto de ‘irracional’ esconde a conduta do cidadão médio.
O
conselho de Laswell
Isso levou um político
psicanalítico, Laswell, a aconselhar o liberalismo medicinal, vinculando o exercício
da liderança democrática à saúde e não à doença.
Visualizar o fenômeno
político, como expressão da esfera individual, em sua dimensão subjetiva, e tendo
como fundamento a ansiedade, pode levar a negar a situação política objetiva. Da
mesma forma, o protesto social, na visão psicanalítico política, pode ser visto
como sintoma neurótico, abrindo espaço à Psiquiatria considerar a sociedade conforme
as malhas do modelo médico mais autoritário: o modelo hospitalar clássico.
Ao rechaçar o maniqueísmo
ingênuo, que consiste em rotular como “boa” ou “má” tal ou qual política, a
Psicanálise vincula como “soluções dramatizadas”, de uma temática que tem a sua
gênese na vida pessoal.
O governante tem o verdadeiro
poder, mediante a atribuição ilusória de seus partidários.
A imagem freudiana do
pai, como modelo de autoridade, vincula-se diretamente com a ide ia de que na sociedade
ocidental qualquer tipo de autoridade será submetido a crises.
A atitude psicanalítica
reforça o distanciamento ante a autoridade. Freud agrega a contribuição da análise
psicanalítica à crítica do conceito de legitimidade, já muito desenvolvida nas ciências
sociais. Para Freud, a dimensão política é uma extensão da esfera privada; assim,
a veneração exagerada ante o homem público é uma recorrência da adoração do filho
pelo pai. Freud considera a personalidade pública como um carente de atenção e
afeto, derivado das relações pessoais.
Dessa forma, não é
possível o fanatismo político quando o partidário reconhece, no seu líder, o
deslocamento da imagem paterna; o crente , a fraqueza, quando analisa sua
conduta religiosa, endereçada à ilusão. No fundo, Freud realiza uma crítica da política,
na medida em que, fundado em Ricardo III, vê no homem que exerce o poder um neurótico.
Por outro lado, funciona o mecanismo de identificação, daí as dinastias de poder
dos Roosevelt aos Kennedy. A psicanálise colocou em xeque o exercício “livre”
da cidadania na medida em que descobriu o muito de “irracional” na conduta do cidadão
médio, daí, um político; logo, como Laswell aconselhar um liberalismo
medicinal.
A grande receptividade
da Psicanálise nos EUA constitui no fato dela postular a vinculação das ideias de
mudança social à conduta neurótica, assim, revolucionário, seria aquele que estivesse
em rebelião contra o seu pai. O público e o aspecto social mascaram “conteúdos latentes”,
as ideologias revolucionárias seriam “racionalizações” de complexo edípicos.
Como confidente das
fantasias e desejos do homem, Freud aprova o caráter repressivo da sociedade. Enquanto
sugere uma atitude conciliadora da mesma ante os instintos, admite que seus interesses
conflitam com o indivíduo. Assim, a debilidade, credulidade e passividade das
massas é acompanhada pela aquisição de poder pelos líderes políticos. Segundo
Freud, por natureza, os homens são in capazes de esforço contínuo, de um trabalho
regular e planejado, porém só ele é fonte de independência e maturidade.
Isso é privilégio de algumas
minorias, daí não esconder Freud a sua admiração pelas minorias que sabem o que
querem. Na sua Novas Contribuições à Psicanálise, ele imagina a existência de um
pequeno grupo de homens de ação, imbatíveis em suas convicções e impermeáveis à
dúvida e ao sofrimento, como condição de regeneração social. No mesmo estilo, em
carta a Einstein imagina ele uma espécie de República Platônica, cujos governantes
se constituam como comunidade subordinando sua vida instintiva à ditadura da
razão.
Para Freud o homem se
compõe de uma estrutura instintiva básica, daí tentativas de supressão da
opressão política; para ele, resultar iam na troca de um autoritarismo por
outro. Embora admita que a massa possua qualidades éticas acima da norma, isso não
basta para redimi-la do fato, de que, o calor do companheirismo entre seus
pares anule a racionalidade do comportamento. Na medida em que a sociedade
mantém sua coesão graças ao sentimento de dependência e respeito pelo líder,
possuí um fundamento autoritário. A sociedade para Freud é sempre uma sociedade
de desiguais, a igualdade é vista como utópica. Freud, parte do pressuposto liberal,
que, sem a desigualdade erótica, a escassez e competição erótica, parcialmente
sublimada em benefício da sociedade, não faltariam antagonismos e identificações
que a mantivessem unidas. Se trocarmos a recompensa econômica pela emocional, veríamos
Freud com o aquele que traduz a linguagem da economia clássica em código ético moral.
O ethos liberal subjacente a Freud transparece na sua admissão da desigualdade como
um “destino”, sua resignação ante a fatalidade da existência da autoridade, buscando
sua adequação ao social nunca sua abolição. Por sua vez, ao comparar a autoridade
pública à paterna, a massa às crianças, destrói qualquer idealização da autoridade
pública. A analogia entre a estrutura familiar ao Estado e sua técnica analítica
encaminhada à emancipação dos vínculos familiares, constitui-se numa crítica ao
“respeito” social e político.
Como o comportamento político
tem raízes inconscientes, a política dever ser a catarse das massas, com função
idêntica à arte no plano individual. Assim, nas guerras as nações postulam interesses
como “racionalizações” de suas paixões; a ação coletiva representa regressão à
barbárie; assim, o Estado se permite atos que o indivíduo jamais o faria. A maior
parte das decisões “heroicas” se dá sob o signo do instinto da morte. Freud critica
o Estado na medida em que o identifica com as massas, vendo-o como um ídolo que
esmaga cegamente a consciência individual. Quando condena o caráter repressivo
da sociedade política, o faz na medida que a categoria indivíduo constitui o
fundamento de seu discurso e assegura a unidade de seus pontos de vista.
Para o fundador da
Psicanálise, a política era algo que ocorria na psique dos indivíduos, daí sua psicologia
ser tanto individual como social, visto essa como “externalização” de fantasias
e desejos pessoais. O interesse pelo social, tem como base o individual. A psicanálise
freudiana se insere na tradição liberal da defesa do indivíduo.
No intuito de domar o
indivíduo associal, Freud reconhece a importância civilizadora da sociedade,
porém, encara suas exigências sob o ângulo da “renúncia”. Nega o conceito
organicista, segundo o qual os indivíduos se realizam através da Igreja,
comunidade sagrada ou Estado. A visão freudiana comparte a noção segundo a qual
a sociedade significa sempre sacrifício da individualidade, neste sentido,
amplia as posturas de Nietzsche e Max Stirner a respeito do “único”. Daí sua tentativa
terapêutica em separar as paixões particulares de sua transferência neurótica sobre
a autoridade. Seu tema gira em torno do custo sacrifício da liberdade individual
à tirania social. Encara o auto sacrifício como doença. Sua tarefa consiste em
controlar o custo entre o princípio de prazer (satisfação) e o princípio de
realidade (renúncia), nisso define-se a Psicanálise como terapia e doutrina.
Procura defender o indivíduo
da submissão inevitável a preceitos comunitários, mediante a análise do fundamento
destes e sua gênese. Nesse sentido, sua doutrina é a realização do liberalismo,
onde a medicina atua como mediadora entre o conflito individual e a coerção social,
analisando esta no momento em que coíbe aquele outro. O interesse pelo indivíduo,
herdado do romantismo, traz consigo uma visão elitista. Seus sujeitos são os
“cultos” que alcançaram sua individualidade reconciliando-se com seus
instintos, é a maturidade como meta de chegada da existência. Perfila o tipo do
homem racional, prudente, liberto interiormente da autoridade, quites com sua
quota de conflito e neurose. A psicanálise postula uma espécie de alienação
racional entre os entusiasmos públicos. Freud é cético em relação a todas as
ideologias, menos a que tange à vida pessoal.
A psicanálise parece como
doutrina do homem “particular” que se defende contra a invasão da esfera
“pública”, a preocupação pela esfera “pública” se dá por motivações conscientemente
“particulares”. A medida psicológica, para ele, não é perfeição social, é a
saúde individual. Há luta individual pelo autodomínio ; a psicanálise é a
vitória do ego (consciente) sobre o Id (inconsciente) condição do domínio sobre
o ambiente. Dessa maneira, é que a ética darwiniana transporá à psicologia, vai
mais além do liberalismo sobrevivendo ao seu declínio.
A
liberdade
Para Freud, a
liberdade é uma metáfora, só tem existência real do indivíduo, quando entendida
como um equilíbrio entre o ego e o superego e o id. A procura de liberdade social,
para ele, é uma contradição lógica, entende a liberdade e a tirania como estados
psíquicos, na base dela há a “tirania psíquica”, entendida como domínio dos
temores e compulsões inconscientes. A psicanálise postula o indivíduo
antipolítica que procura a auto perfeição num contexto o mais possível separa da
comunidade. Para ele, toda política é sinônimo de corrupção, seja num Estado
liberal ou autoritário.
Na medida em que,
para ele, a liberdade é um estado psíquico, sua possibilidade de existência se dá
em qualquer sociedade. Assim, pode haver escravos livres em Roma Antiga, como cidadãos
escravizados na Europa. A Psicanálise com sua ênfase na vida interior e no equilíbrio
das três instâncias do psíquico como condição de saúde, questiona os regimes
políticos. Dessa maneira, Freud desloca a questão da análise do sistema político,
para ele, ela passa pela equação pessoal e pela interrogação de até que ponto o
indivíduo deve ser limitado no marco das
relações sociais predominantes. Ele é o máximo de consciência
possível do ‘ethos liberal’, que tem como base o inconsciente.
Obras consultadas:
S. Freud. Obras Completas. Trad. Luiz Lopes Ballesteros y De
Torres. Ed. Americana, Buenos Ayres, 1943. Volumes: VIII – Totem y Tabu; IX – Psicologia
de las massas y analisis del yo; XI – El porvenir de las religiones.
Harold Laswell – Power and Personality, 1948.
* Maurício Tragtenberg foi cientista político e
professor do Departamento de Ciências Sociais da Escola de Administração de
Empresas da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Publicado originalmente em: Folha
da Tarde, 22/09/1979.