O PAPEL DO SINDICATO
Maurício Tragtenberg
Quer sob o capitalismo privado, quer sob o capitalismo de Estado, o sindicato exerce a mesma
função do partido: contribuir para a reprodução do sistema, pois a luta por reivindicações salariais acaba
beneficiando o setor II da economia (bens de consumo).
É um sindicato atrelado ao Estado cuja preocupação consiste em controlar a massa operária, falar e
negociar às suas costas.
Pode ser, em outra via, um sindicato imbricado no sistema capitalista sob a forma de capitalismo
sindical, embora desatrelado do Estado. É o caso de Israel, com a sua Central Operária Histadruth; da
Alemanha, dominada pela DGB; da Escandinávia, cujo sindicato possui legitimamente um parque
industrial e explora a mais-valia dos trabalhadores. A Central Sindical de Israel possui grandes
empresas de construção civil, e o segundo maior banco do país também é de sua propriedade. A DGB
possui empresas, bancos, redes de lojas e opera no mercado financeiro.
Por meio do capitalismo sindical, o capitalismo moderno se redimensiona: o capitalista cuida das
máquinas, o sindicato cuida da disciplinação da mão-de-obra. Noventa por cento das entidades, grupos
ou partidos que trazem o nome “operário” têm a finalidade de controlar o operariado.
Porém, como a luta de classes existe, após ser sufocada ela renasce e assume a forma de autoorganização,
reivindicando autonomia ante o capital, privado ou estatal; criando organizações
horizontais, como os comitês de luta da Fiat-Diesel do Rio de Janeiro; opondo-se à burocratização das
empresas socialistas, como fizeram a Oposição Operária de Kollontai em 1920, a Rebelião de Kronstadt
e as rebeliões húngara, polonesa e tcheca; opondo conselhos operários livremente eleitos à ditadura do partido único, como na Polônia, onde o Solidariedade transformou o sindicato estatal oficial em
“paralelo”, esvaziando-o totalmente.
Este é o pêndulo da luta social através dos tempos e um dos dilemas fundamentais do socialismo:
Autogestão social ou estatização da economia? Auto-organização mediante a formação de conselhos
operários ou hegemonia de uma vanguarda? Democracia direta ou democracia parlamentar com ou
sem partido único? Eis as questões postas na mesa.
A resposta deverá ser dada pelo desenrolar do processo social, pelas relações de classe das forças
em luta, pela capacidade de reação do proletariado a manipulações social-democratas ou suas irmãs
eurocomunistas.
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Capítulo de:
TRAGTENBERG, Maurício. Reflexões Sobre o Socialismo. Rio de Janeiro: Moderna, 1988.
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